“Agricultores residentes nas localidades de Campinas e Guapira, zona rural entre os municípios de São Felipe e Maragojipe, relatam supostas aparições de um animal ainda não identificado, mas que suspeitam se tratar de um lobisomem”, anunciava, na semana passada, um site do Recôncavo. Na reportagem, uma câmera instalada estrategicamente no meio do mato registrou, e pelo menos 29 mil pessoas viram no YouTube, o que seria a criatura em postura de caça.
Ai, meu pai
Quando soube do ressurgimento da fera na Bahia, na mesma hora emergiu na memória uma lembrança que parecia besta, de guri: turva, envolvia um lobisomem que tentara invadir a casa de minha avó, quando a galera morava na roça de Santa Bárbara, região de Feira.
Ato contínuo, mandei um zap pra minha prima Heide, que foi até tia Du repassar a história a limpo. Pra surpresa, meu pai, Gabriel, hoje com 61 anos, quase não passou do primeiro mês de vida. Minha tia, citando vó Raquel, relatou o ataque do lobo-mau à casa do recém-nascido.
“Quando deu 10 horas, a lua bonita, mamãe viu uma pessoa arranhando a porta. E tava com menino novo (meu pai), mole. Mamãe bateu na porta, ele (lobisomem) correu, e lá (na frente da casa) tinha uma pedra bem grande. Aí ela viu quando ele correu e ficou lá sentado. Aquele corpão comprido, de uma pessoa, mas parecendo um bicho. Ela contava isso direto e lembrava que (o homem-lobo) batia na porta querendo o cheiro do menino mole”, descreveu tia Du.
Eu não creio em bicho papão, mas ele existe, afinal, vó Raquel (falecida há mais de 15 anos) jamais contaria uma mentira! Ainda mais uma cabeluda e com garras tão afiadas.
Quem é ateu e viu milagres como o poeta James Martins também sabe que essas histórias não cessam de brotar, com precedente óbvio nos arredores da Tenda dos Milagres. “Eu estava no Pelourinho, há alguns anos, quando ouvi um cara, um coroa, contando um caso de lobisomem. Como peguei a história pelo meio, e me pareceu interessante, pedi-lhe que repetisse”.
Assim relatou o coroa: “Em Alagoinhas tinha um cara que virava lobisomem. E eu sabia quem era. Um dia, eu tava voltando pra casa tarde da noite quando o bicho começou a me perseguir. Corri e o lobisomem atrás. Consegui chegar em casa, entrei e tranquei a porta. Ainda ouvi as unhas do cabrunco arranhando a porta. Passou um tempo, ele foi embora. No outro dia fui ao bar e, quando entrei, quem tava lá? Isso mesmo, o cara que eu sabia que virava lobisomem. Cheguei perto do sacana e já fui logo dizendo: ‘Olhe, não vire mais lobisomem e venha me pegar não, viu, fila da puta! Se você fizer isso de novo, na próxima vez eu te mato’. Tomei uma e fui embora”.
Conta James que seu interlocutor, um pedreiro que não cuidou de verificar a graça, não riu em momento algum, e se saiu meio que irritado com a lembrança. Atitude que reforça a verossimilhança do acontecimento.
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