Um verdadeiro duelo de titãs começa a se desenhar na cena política nacional. No exercício das respectivas funções de governador, Rui Costa e João Doria começam a dar sinais públicos de que podem participar de um possível embate eleitoral em 2022, que vai ser rascunhado nas questões nacionais em que Bahia e São Paulo estiverem em lados opostos. O resultado será uma boa briga por protagonismo caso se confirma a disputa pelo Palácio do Planalto.
Na última semana, Rui e Doria não se bicaram em duas oportunidades. A primeira, no fórum de governadores, o paulista quis fazer as vezes de coordenador entre os chefes de Executivos estaduais. Ali, em meio a outros 24 pares, Doria foi obrigado a recuar depois de um pito do baiano. Três dias depois, foi por meio de declarações na imprensa e nas redes sociais. Depois do ocupante do Palácio dos Bandeirantes criticar o Nordeste pela postura conjunta sobre a reforma da Previdência, Rui rebateu e disse não aceitar “chantagem”.
Rui é um político de esquerda, que flerta com um posicionamento de social democracia. Doria é filiado a um partido social democrata, porém é muito mais liberal do que seus correligionários. Enquanto o baiano tem um perfil de gestor público muito bem definido – e testado –, o paulista nasceu na iniciativa privada, com um papel de lobista profissional, quando se apresentou como outsider para a prefeitura de São Paulo e, menos de dois anos depois, migrou para o governo. São duas visões de mundo e de administração que estarão sob testes nos próximos anos.
Com pé na área de publicidade, Doria é melhor na comunicação. Porém o governador Rui Costa não fica atrás e tem apresentado bons resultados, mesmo em um cenário adverso para o PT e para a Bahia, um estado originalmente muito dependente de transferências e projetos federais como força motriz. Em 2018, o petista foi revalidado pelas urnas e ganhou fôlego para o segundo mandato e para sonhar com voos mais altos. Já o tucano disputou de maneira acirrada o segundo turno, traiu seu padrinho político e embarcou em um projeto “Bolsodoria”, que seria praticamente abandonado pouco tempo depois.
Doria é muito mais um homem que se dedica a lapidar o próprio nome do que um projeto de grupo. Não parece ser a postura de Rui, ainda que ele tenha um viés egoísta maior do que seus confrades de partido. Nenhum será candidato de si mesmo, caso disputem a Presidência da República. Mas o paulista pelo menos saiu na frente numa espécie de auto apresentação como candidato. E o baiano construiu um legado mais longevo no serviço público, que deve pender como um trunfo.
Até 2022, veremos muitas outras provocações e alfinetadas entre ambos. Sendo eles candidatos ou não ao Planalto, será uma boa disputa para quem está como espectador. Principalmente por sabermos que Rui e Doria são excelentes jogadores. A sorte já foi lançada. (BN)