Doze dias após parto, dona de casa ainda busca saber o que pode ter acontecido após dar à luz em hospital de Quirinópolis. Delegada diz que já ouviu 14 pessoas e aguarda laudo para concluir inquérito.
Mais de dez dias após dar à luz, a dona de casa Aline Parreira de Jesus ainda não consegue curtir o pequeno Everton sem preocupações. Ela busca entender o motivo de ter recebido somente um bebê após todos os exames de ultrassom mostrarem que esperava gêmeos. Aline aguarda a conclusão das investigações para saber, de fato, o que aconteceu durante o parto no Hospital Municipal Antônio Martins da Costa, em Quirinópolis, região sudoeste de Goiás.
“Ainda estou na dúvida, sem respostas. [Queremos saber] se havia ou não outro bebê”, desabafa.
O parto ocorreu no último dia 13. Uma câmera de segurança do hospital registrou o momento em que apenas um bebê sai do centro cirúrgico (veja acima). De acordo com a delegada, as imagens são usadas para confrontar com os depoimentos dados por médicos e demais profissionais que participaram do parto.
Tanto Aline quanto o marido, Erivaldo Correia da Silva, já prestaram depoimento sobre o caso. Aline diz que convive com dois sentimentos distintos, por ter um filho saudável em casa, mas sem saber se há ou não outro bebê.
“É muito triste. A pessoa se prepara, fica naquela empolgação. Quando chega no dia do parto, descobre que é só um e vem a decepção. Por um lado, [fico]meio decepcionada. Por outro, muito feliz por ele [filho] ter nascido forte e saudável”, pondera.
Resumo do caso
- Aline Parreira de Jesus fez quatro exames de ultrassom que apontam gravidez de gêmeos;
- Ela deu à luz em 13 de setembro, no Hospital Municipal Antônio Martins da Costa, em Quirinópolis, onde mora;
- Dois dias depois, ela recebeu alta, saiu do hospital com duas declarações de nascimento, mas só com um filho
- Marido de Aline, Erivaldo Correia da Silva, deu queixa na delegacia, e a polícia começou a colher depoimentos.
- Secretaria de Saúde confirmou que os exames mostravam a presença de gêmeos, mas que só nasceu um bebê;
- Hospital alega que expediu duas declarações de nascimento por engano;
- A médica que fez o parto diz que houve um erro no exame;
- Pais da criança, médicos que fizeram as ultrassonografias e equipe que atuou no parto são ouvidos por delegada;
- Prima de Aline que trabalha como técnica de enfermagem no hospital diz que foi chamada ao centro cirúrgico na hora do parto e viu que um bebê tinha nascido e não havia outro para nascer.
Aline e o marido esperam que situação seja resolvida logo — Foto: Reprodução/TV Anhanguera
Investigação
A delegada Simone Casemiro Campi, responsável pelo caso, disse que aguarda o trabalho da perícia nos quatro exames de ultrassom, que será feito no IML de Goiânia, para concluir o caso,
“Já ouvimos 14 pessoas, incluindo os pais e toda equipe do hospital municipal, bem como os médicos que realizaram os exames de ultrassonografia. Toda equipe médica estava no centro cirúrgico”, pontua.
Para a delegada, houve uma “sucessão de erros” no caso, com a emissão de duas declarações de nascidos vivos e o registro de duas certidões de nascimento das duas crianças pelos pais.
“Teve uma sucessão de erros, infelizmente, como a emissão das declarações de nascido vivo. Nós apuramos porque aconteceu. Houve uma falha de comunicação na troca de plantão e acabou sendo emitida essa segunda declaração”, afirma.
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“Por conta disso, o pai conseguiu registrar as duas crianças no cartório de registro civil munido dessas duas declarações. Teve uma sucessão de acontecimentos que foi agravando a situação”, completa.
O registro das duas certidões também é investigado pela polícia, pois, em tese, uma das crianças não existe. O hospital diz que houve um erro durante a troca de plantão e que foi expedido, na verdade, a mesma declaração em duplicidade para um único bebê.
‘Reflexo’
A priori, a polícia trabalha com a possibilidade de erro de diagnóstico nos exames de ultrassom, apesar de que os quatro feitos por Aline antes do parto apontavam gestação de gêmeos.
A obstetra que fez o parto disse que a segunda criança era, na verdade, apenas o “reflexo” no líquido amniótico de um único feto que Aline esperava.
No entanto, o médico Waldemar Naves do Amaral, membro da Sociedade Goiana de Ginecologia e Obstetrícia e especialista em diagnóstico por imagem/ultrassonografia, acha pouco provável que o erro seja esse, já que foram feitas mais de uma ultrassonografia com mais de um médico e inicialmente em equipamentos diferentes.
Exames mostram que dona de casa esperava gêmeos, mas ela deu à luz apenas um bebê — Foto: Reprodução
*G1.