Um estudo feito pelo Instituto de Biologia (Ibio) da Universidade Federal da Bahia (Ufba) apontou redução de quase 47% na quantidade de espécies presentes nos recifes de corais das praias de Itacimirim, Abaí, Guarajuba e Praia do Forte, no litoral norte do estado, atingidas pelo derramamento de óleo que afetou todo o litoral do Nordeste brasileiro.
O levantamento mostrou também queda de 65,92% (446 para 151 indivíduos) no número de animais vivos nesses locais e também um aumento de 10 vezes no branqueamento, espécie mais atingida pelo poluente. Desde 1995, quando começou o acompanhamento da biodiversidade nas localidades, a taxa anual de branqueamento é de, em média, 5% a 6%. No entanto, entre 17 e 20 de outubro deste ano, quando a análise foi feita pela universidade, a porcentagem aumentou para 51,92%. A cor dos corais é um fator para atestar a saúde deles. Se estiverem com aspecto rosado, estão bem. No entanto, quanto mais branco se apresentarem, mais doentes estão.
Os pesquisadores avaliaram uma área total de 140 m² – 35 m² em cada praia – e compararam os dados de abril deste ano, antes do óleo tomar conta do mar, e de outubro, logo após o desastre ambiental. Os resultados foram apresentados à imprensa nesta segunda-feira (25) pelo professor Francisco Kelmo, coordenador do estudo e diretor do Ibio.
“Quando um coral está saudável, ele fica rosado ou cor de café. Qualquer distúrbio diferente, o coral pode perder a cor ou ficar totalmente branco”, explica o biólogo.
De acordo com ele, o branqueamento pode aumentar, em condições naturais, se houver crescimento na temperatura da água ou aumento na incidência de radiação solar sobre os corais. Como não foi detectada mudança considerável nestes fatores, a motivação para o fenômeno foi o óleo.
Kelmo alertou que a perda de biodiversidade atestada na pesquisa terá impacto na cadeia alimentar e na reprodução dos animais. “Estes números indicam que houve perda de patrimônio natural, redução no número de animais, redução na diversidade de animais e aumento das doenças/mortalidade nos corais. Assim, compromete a cadeia alimentar, causa desequilíbrio ecológico […]”, aponta uma das conclusões do estudo.
Um dos ingredientes para a situação é o fato de que o óleo chegou às praias no início de outubro, justamente no período reprodutivo dos animais, que acontece entre o fim de setembro e fevereiro. Antes do desastre, havia média de 88 espécies na área pesquisada. Depois, o número caiu para 47. Entre os tipos perdidos, estão crustáceos e moluscos, sendo que, entre os mais pescados e consumidos na região, estão polvos e lagostas, segundo o professor.
Para Kelmo, o ecossistema deve levar de 10 a 20 anos para se recuperar naturalmente, caso não haja novos desastres para impactar a área. Ele também disse que é falar em extinção de espécies é “muito forte”, mas que há possibilidade de desaparecimento local de algumas delas. No mês de dezembro, os pesquisadores vão analisar a presença do óleo nos recifes submersos, já que, neste primeiro momento, foram estudados apenas os costeiros. O mesmo deve ser feito nos manguezais posteriormente, afirmou o diretor do Ibio. *BNews.