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Maria Bethânia estreia turnê afetiva na Concha Acústica do TCA

‘A convivência humana está muito sem eixo’, diz a cantora que se apresenta domingo (8), com ingressos esgotados

Depois de contar, orgulhosa, que o canto dos passarinhos no fundo da ligação vem do quintal de sua casa – “aqui tem até tucano!” -, a cantora Maria Bethânia lembra de um período marcante de sua vida: o Rio de Janeiro dos anos 1960. Foi ele que serviu de inspiração para seu novo show, Claros Breus, que será apresentado na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, no domingo (8), às 19h, com ingressos esgotados.

“Nos anos 60, éramos todos amigos, todo mundo se conhecia, se assistia todo dia. Era muito divertido e próximo o convívio com os autores: Vinicius [de Moraes], Baden [Powell], Elizeth [Cardoso]… O Rio de Janeiro era aquela suavidade da noite que podia ser vivida sem sustos, sem medo”, lembra Bethânia, 73 anos, sobre a época em que emendava os shows junto com os amigos.

“Sinto muita saudade. Lógico que eu tinha 17, 18 anos e muita animação (risos). Depois virei muito caseira, fiz muitos shows. Mas era uma coisa tão livre, tão pequena, tão próxima, tão delicada. Tinha um convívio familiar entre nós todos da música”, lembra, dando pistas do clima intimista que a turnê Claros Breus tenta resgatar.

A estreia, por exemplo, aconteceu no Rio de Janeiro em uma casa de shows para 100 pessoas. Bethânia queria um lugar pequeno, mas “não é que não goste de lugar grande”. “Adoro aquilo, mas também gosto de uma coisa mais íntima, mais próxima, mais sussurrada”, justifica a cantora, sobre a escolha que se deu “talvez por conta do barulho do Brasil de hoje”.

Contato
Daí vem a ideia de chegar perto do público, do contato humano que acabou se perdendo. “Hoje, vejo Chico [Buarque] uma vez no ano, quando faz o show da Mangueira. Vejo Caetano, que é meu irmão, duas ou três vezes, e sinto saudade disso. Mas sem melancolia, com muita leveza”, acrescenta Bethânia, que lança um disco em homenagem à Escola de Samba da Mangueira, na sexta-feira (6).

O maestro Letieres Leite é quem assina os arranjos e a direção musical do disco Mangueira – A Menina dos Meus Olhos (Biscoito Fino), assim como do show que mostra um “amor afetivo pelo Brasil do interior, do seu calor, da sua gente, com uma memória saudosa e festiva”. São quase 30 músicas ao vivo, entre inéditas “de compositores queridos” como Adriana Calcanhotto, Chico César e Roque Ferreira, e clássicos de artistas como Gonzaguinha (1945- 1991) e Chico Buarque.

O show, segundo Letieres, tem um formato maleável para a interpretação, “que é um dos maiores recursos que Maria Bethânia propõe em sua arte”.

“Minha preocupação maior foi a banda estar a serviço da cantora. Que a gente tivesse mobilidade para que ela fizesse sua arte da melhor maneira possível. É como um alfaiate, fazendo uma roupa na medida da pessoa”, compara o maestro, sobre o trabalho com Bethânia.

A parceria aconteceu depois que a cantora convidou o maestro para assistir a um ensaio do show, quando já tinham finalizado o disco em homenagem à Mangueira. Ao escutar o material bruto da apresentação, Letieres não pensou duas vezes e disse: “Eu posso fazer esse show”.

“Quando vi que o repertório que não tinha tanto a ver com o disco, mas tinha a ver com a minha infância e juventude, vi que poderia colaborar de alguma maneira”, lembra o líder da Orkestra Rumpilezz. A apresentação, então, foi montada a partir da “forma estruturada de pensar, de Bethânia”. A anfitriã diz “exatamente como quer a instrumentação e o clima do show”, conta o maestro.

“Foi uma grata surpresa, porque eu já sabia do rigor do trabalho da nossa Abelha Rainha, mas quando me aproximei percebi que tinha uma coisa muita estruturada, foi uma nova universidade. Um novo aprendizado ter contato com esse cuidado meticuloso. Foi uma escola que me marcou e vai ficar pra sempre”, elogia Letieres, que é definido por Bethânia como “grande músico, grande arranjador, muito sábio”.

Dores e prazeres
É esse o clima de Claros Breus, cujo título surgiu de forma despretensiosa, quando Bethânia estava “empezinha, anotando uma coisa”, lembra a própria artista. “Claros no sentido de claridade, de nítidos breus. Do mesmo modo que canto vários afetos, tem afetos escuros, duros de serem cantados. Breus é uma palavra de muita força. Acho bonito isso. Acho que é um nome livre, um repertório livre, que tem dores e tem prazeres”, completa.

A apresentação, portanto, é uma história sobre a noite carioca e outros assuntos que interessam à artista, como o amor e a preocupação que nutre pelo Brasil. “Acho o povo brasileiro de uma natureza tão especial, ele é capaz de passar por breus, dores, dificuldades e se reerguer com um pequeno encontro com uma música que lhe toque o coração. Isso me comove demais”, confessa.

É essa troca que fortalece a artista a continuar no palco, lugar onde também se sente em casa. “Acho que o mundo está muito esgarçado, a convivência humana está muito sem eixo, isolada. Acho vazio, solitário, ninguém mais se liga, não escreve uma palavra. Fico muito assustada. O que me move é ao contrário. O convívio, a troca, o diálogo”, convida.

Serviço
O quê: Maria Bethânia na turnê Claros Breus
Quando: Domingo (8), às 19h
Onde: Concha Acústica do Teatro Castro Alves (Campo Grande)
Ingressos (esgotados): R$ 150 | R$ 75 (plateia) e R$ 300 | R$ 150 (camarote)Cadastre-se

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