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Professor de Libras cria plataforma que auxilia surdos durante pandemia de covid-19

As ferramentas tecnológicas surgem com o principal objetivo de tornar o nosso dia a dia mais fácil, não só por reduzir o tempo das nossas atividades ou pela interatividade criada, mas também pelo bem-estar gerado ao usuário – falando daqueles que as utilizam da forma correta, claro. 

E dentro dessa realidade, esse bem-estar pode ser responsável também por gerar a inclusão das minorias. E é com esse objetivo que o projeto Libras Inter Conect surge, aqui mesmo na Bahia. O criador da plataforma é um alagoano de 28 anos, mas com um coração baiano. 

“Já me considero baiano, porque desde que cheguei aqui todos me receberam de braços abertos”, explica Aisamaque Souza, que é professor de Libras do Instituto Federal Baiano (IF), no campus de Itapetinga. A plataforma que está em desenvolvimento surge para auxiliar pessoas surdas em meio à pandemia de covid-19, levando um “atendimento mais humanizado, que rompe as barreiras comunicacionais entre os profissionais da saúde e as pessoas Surdas”, define Aisamaque. 

O Libras Inter Conect deve chegar aos usuários no início de agosto, primeiro para as cidades de Itapetinga, Teixeira de Freitas e Uruçuca. Agora passa pelas últimas fases de teste da plataforma, que vai conectar, simultaneamente, e ao vivo, um médico, um intérprete de Libras e o paciente, tudo à distância. “Ela surge para colocar o intérprete  como centro dessa ferramenta de comunicação. Dentro do app, o médico aciona um intérprete que esteja disponível e o sistema redireciona para que ele faça a tradução para a pessoa surda”, explicou o criador do programa, que lembra que essa ferramenta é única para quem tem a deficiência auditiva.

Bom, e não precisar ter aquela preocupação se ‘o conteúdo da consulta médica será traduzido da forma correta’. Aisamaque tranquiliza lembrando que todo o intérprete de Libras, ao assumir a função, segue um código de ética profissional. Além de explicar com clareza as orientações técnicas que o médico passará, mantém “o sigilo entre o profissional da saúde e paciente”, concluiu.

  “Quando me refiro a pessoas Surdas falo quanto ao fator de identidade, surdos com S maiúsculo, demonstrando que houve um processo de lutas e conquista”, explica Aisamaque, sobre a utilização da expressão 

O projeto pôde ser elaborado depois que Aisamaque, juntamente com um grupo de profissionais do IF, inscreveu o aplicativo em um edital promovido pelo Conif, o Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. Entre os profissionais que ajudaram no desenvolvimento da plataforma, está a docente de Libras Renata Cristina dos Reis, 34. Para ela, além do auxílio durante as consultas, essa ferramenta ajuda a comunidade surda a cumprir o papel responsável durante a pandemia. 

A professora Renata se juntou ao programa em janeiro desse ano (Foto: Divulgação)

“Uma parte da comunidade surda ou deficiência auditiva do Brasil não tem acesso à informações corretas ou orientações de como evitar o novo coronavírus. Isso impacta no cumprimento do distanciamento social. Portanto, esse projeto poderá facilitar o acesso às informações”, afirma Renata, que foi diagnosticada com surdez tardiamente, quando tinha dois anos de idade, e não sabe se a deficiência foi de nascença ou algum acidente. Atualmente ela leciona no campus de Teixeira de Freitas.

 ” Uma forma de transformar e nos deixar em uma situação de independência”, afirmou Renata

O site que também será lançado junto ao app, informa à população surda, por exemplo, dados sobre a pandemia, boletins e outras dicas básicas de prevenção da covid-19. A professora completa lembrando que o isolamento também dificulta o contato dos Surdos com intérpretes de maneira geral, e o Libras Inter Conect ajuda nesta reaproximação.

O outro papel desenvolvido por Renata na formulação do projeto, é uma espécie de curadoria, que seleciona os profissionais que farão a tradução para Língua Brasileira de Sinais. Segundo ela, as qualificações técnicas devem apresentar, no mínimo, fluência verbal e gramatical das duas linguagens, e “experiência e convivência sobre a identidade e cultura surda”, disse Renata.

Pós covid

A ferramenta chega como uma solução momentânea em meio à pandemia. Mas a sua funcionalidade pode ser facilmente aplicada em outras situações, e auxiliar os Surdos em diversas vertentes da sociedade. Antes de desenvolver o Inter Conect, Aisamaque atuou de 2010 a 2017 como intérprete, sempre no setor educacional. Ele acredita que essa ferramenta possa ampliar o alcance da Língua Brasileira de Sinais, já que em áreas, como a saúde, por exemplo, esse tipo de auxílio é pouco utilizado.       

“Na área da saúde ainda não há inclusão, pensando nisso, consideramos que as pessoas Surdas estão sendo excluídas e segregadas socialmente por não terem atendimento e comunica adequada para elas”, avaliou Aisamaque. Para ele, a intenção é expandir para as “duas principais áreas sociais, que são educação e segurança pública”, define. “Esses sistemas precisam muito de intérpretes, que possibilitem a inclusão social. Nosso projeto tem a pretensão suprir a área da saúde primeiro, mesmo após a pandemia, mas também ocupar esses dois espaços”, finalizou.

O pensamento é compartilhado por Renata, que ver o Inter Conect como um meio de transformação, para dar “independência a essas pessoas”, explicou. “Não precisaria chamar alguém da família ou amigos para lhe auxiliar na comunicação, ele poderá utilizar o Libras Inter Conect e comunicar diretamente”, completou. Renata finaliza lembrando da entrada no projeto, a convite do amigo e professor, que lhe encheu os olhos principalmente por conhecer toda a história da comunidade surda, muito pela “dificuldade de linguística e de comunicação”. 
 Fonte: Correio24horas

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