A campanha Novembro Azul, realizada este mês para reforçar a importância da prevenção e diagnóstico precoce do câncer de próstata, ocorre em momento de maior isolamento social causado pela pandemia. Neste cenário, especialistas e órgãos da área médica alertam para os riscos da falta de acompanhamento médico e identificação inicial do segundo tipo de câncer mais comum entre os homens.
Além da pandemia, tabus como a ideia de agressão da masculinidade causada pelo exame de toque retal, usado no processo de diagnóstico do câncer de próstata, ainda persistem, acrescentam os médicos. Na Bahia, até o final do ano, serão registrados 6.130 novos casos da doença, 1.090 na capital, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca).
O engenheiro químico Paulo José Rodrigues, de 47 anos, começou a realizar o exame anual de toque retal aos 42 anos. Graças ao cuidado, descobriu um câncer de próstata de forma precoce, aos 44 anos. A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) recomenda o exame anual de toque retal a partir dos 50 anos. Homens com histórico familiar de câncer da próstata devem iniciar aos 40 anos.
Exame
“Na empresa onde trabalho, o indicado era a realização do exame de toque a partir dos 50 anos. Mas resolvi começar o cuidado um pouco mais cedo. E isso salvou a minha vida. Sempre tem uma brincadeira com relação ao exame e a questão da masculinidade, mas o importante é o autocuidado e a garantia da vida”, diz Paulo.
Após a identificação do câncer, confirmada com a realização de exames auxiliares como o de sangue (PSA), Paulo fez a cirurgia de remoção do tumor e foi curado da doença. O presidente da SBU na Bahia, Lucas Batista, reforça que o diagnóstico precoce do câncer de próstata aumenta a chance de cura em mais de 90%.
“No Brasil, por causa de fatores como os tabus e a pandemia, houve uma queda de 60% das cirurgias oncológicas. O problema deve gerar o aumento de tumores mais avançados. Por isso, o momento é de conscientização dos homens sobre a necessidade do acompanhamento médico e realização dos exames diagnósticos”, afirma Batista.
De acordo com Vinicius Carrera, oncologista especializado em câncer de próstata, quando o diagnóstico é tardio e o câncer faz metástase, formação de uma nova lesão tumoral a partir de outra, não existe mais chance de cura. “Nesse momento, ocorre apenas o uso de remédios paliativos para os sintomas causados pela doença”, acrescenta.
Sintomas
O câncer de próstata pode causar sintomas como sangue na urina ou no sêmen, disfunção erétil, dores no quadril e nos ossos. No entanto, tais sintomas podem aparecer em estágios mais avançados da doença, com a ausência de qualquer alteração perceptível no início da doença, alerta o oncologista.
“O câncer de próstata tem comportamento distinto dos outros tipos de câncer. Por isso, tudo depende de cada caso, tornando essencial a realização dos exames anuais nas idades e situações indicadas. Existem casos em que não é preciso a realização de cirurgia, mas o tratamento mais usado é a cirurgia de remoção da próstata”, explica Carrera.
O oncologista acrescenta que a tecnologia avançou e as cirurgias feitas para o tratamento do câncer de próstata garantem questões como a preservação vascular e conservação da potência sexual. Além disso, ele acrescenta que a cirurgia robótica veio facilitar ao cirurgião executar a cirurgia com maior precisão, rapidez e com menor efeito colateral ao paciente.
O que é
Tendo como principal função produzir uma secreção fluida para nutrição e transporte dos espermatozoides, a próstata também auxilia a continência urinária, controlando a passagem da urina.
De acordo com os especialistas, o câncer de próstata ocorre devido uma falha genética na célula do órgão, que começa a sofrer alteração na estrutura mais básica, o DNA e RNA, produzindo substâncias anômalas e crescendo sem organização, perdendo a característica da glândula, podendo migrar para outros lugares do corpo, principalmente os ossos e gânglios na região pélvica. Dessa forma, a célula da próstata começa a crescer e destruir os ossos e gânglios, provocando sintomas da doença.
Em fase inicial a doença geralmente não apresenta sintomas. Quando corre, se diagnosticada precocemente, o paciente pode ter 90% de chances de cura. Ao apresentar sintomas significa fase mais avançada com vontade de urinar com frequência, além da presença de sangue na urina ou no sêmen.
Cirurgia robótica é aposta de pacientes em Salvador
O autônomo Paulo Farias Soares, de 65 anos, optou pela cirurgia robótica para a retirada de um câncer de próstata na semana passada. Para o autônomo, a cirurgia, feita na capital, não foi muito invasiva, durou pouco tempo e foi indolor. Agora, ele segue com o acompanhamento médico e a realização de exames periódicos, a exemplo do PSA, para a confirmação da recuperação da doença.
Em Salvador, os hospital São Rafael (HSR) e Santa Izabel oferecem o serviço de cirurgia robótica para casos como as cirurgias de remoção da próstata. De acordo com o chefe do setor de urologia do HSR, Frederico Mascarenhas, o procedimento oncológico traz bons resultados para o processo de recuperação do paciente.
“O tratamento cirúrgico conhecido como prostatectomia robótica consegue manter a potência sexual do homem em, aproximadamente, 90%. Além disso, a incontinência urinária fica próxima a zero e existe o rápido retorno ao trabalho”, diz o urologista.
Procedimento
Na prática, o robô tem quatro braços articulados que realizam movimentos de alta precisão, possibilitando a preservação de estruturas vitais do organismo. Enquanto um braço possui a câmera que permite a visualização dos procedimentos, os demais ficam livres para o manuseio dos instrumentos cirúrgicos.
Na comparação com a cirurgia convencional, a técnica é considerada minimamente invasiva, com maior precisão, menor dor e desconforto no pós-operatório, menor risco de sangramento e tempo de internação.
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