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Grávida, mulher que consentia estupros e mandou filha cometer aborto é solta da cadeia; crimes eram filmados

A mulher envolvida na série de estupros que acabou em aborto da própria filha, Carol*, no bairro do Lobato, Subúrbio Ferroviário de Salvador, foi libertada após passar pouco menos de dois meses presa na capital baiana. Por ironia do destino, segundo a decisão da juíza Gelsi Maria Almeida Souza, Analice de Jesus dos Santos está grávida e, por isso, precisa ir para o regime de prisão domiciliar. 

O caso foi denunciado no dia 20 de novembro pela reportagem do Aratu On. O trabalho de investigação apurou que, além da filha de Analice, outra menina também era abusada, Amanda*. A segunda vítima, com 17 anos – dois a menos que a meia-irmã – é filha de Jacson Santos Pereira, marido de Analice que também foi preso quatro dias depois de a matéria ter sido publicada. O casal foi achado em Itaberaba, a 264 km de Salvador. 

Os dois respondem pelo crime de aborto provocado por terceiro. A reportagem, porém, mostrou que outras atrocidades foram cometidas por Jacson e Analice, como a filmagem dos estupros. Na época, porém, Gelzi Maria entendeu que houve o aborto, mas desconsiderou outras denúncias. Segundo ela, isso acontecerá “quando as provas forem produzidas em juízo, sob o crivo do contraditório”. O Ministério Público da Bahia busca essa condenação. 

Em parte do ofício que justifica a soltura da cadeia, assinada no último dia 12 de janeiro, a magistrada manda que Analice fique longe da sua filha. “[…] Cientifique-se a requerente de que a prisão domiciliar consiste no recolhimento em sua residência, só podendo ausentar-se com autorização judicial, ficando, de logo, autorizada a saída da residência para consultas médicas de pré-natal, idas à maternidade, ou por outras emergências”. 

CASO

Os crimes aconteciam na casa onde a família morava. Amanda voltou a viver com a mãe há cerca de dois anos, mas não conseguia denunciar os abusos cometido pelo próprio pai. “Eu tenho um namorado e não conseguia ter relações com ele, porque eu me sentia estranha. Ele perguntava e eu tinha medo de contar. Um dia, eu falei. Ele me prometeu que não iria contar pra ninguém, mas quando soube do ocorrido, me incentivou a contar pra minha mãe e procurar a polícia”, relatou a filha de Jacson Santos Pereira na época. 

A mãe dela, Girlene da Anunciação de Jesus, foi quem denúnciou à polícia e contou ao pai de Carol, hoje com 15 anos, o que acontecia. A meia-irmã não sabia, mas a mais nova continuava sendo abusada pelo padrasto e pela mãe, tendo sofrido um aborto no começo de 2019. 

Ao tomar conhecimento do crime, o gari Alessandro Pereira Santos trouxe a filha para morar com ele. “Eu perdi o chão [quando recebeu a notícia], sendo sincero. Você criar filho para marginal fazer o que bem quiser e achar que vai ficar por isso mesmo, não vai ficar. A mãe dela fez isso e não vai ficar assim”, desabafou o pai.

As meninas contam, em detalhes, como tudo aconteceu. “Na primeira vez, ele disse que iria me ensinar como fazia e mandou a minha irmã mais nova fazer sexo oral nele. Depois, disse que era minha vez, mas eu não entendi”, lembra Amanda. O suspeito lhe dava presentes, como celulares caros, e ela não entendia o que acontecia. “Eu sentia amor de pai por ele. Hoje em dia, isso dói demais em mim e me arrependo de ter desobedecido minha mãe, porque eu sentia muito amor por meu pai. Depois que perdi a virgindade com ele [Jacson], foi à minha casa, disse que eu tinha me ‘perdido’ com um menino, só que era mentira. Minha mãe disse que não tinha visto nenhum namorado meu. Eu me sentia triste demais. Quase entro em depressão”.

Apenas quando fez 15 anos, Amanda teve coragem de voltar para a casa da mãe, apesar das ameaças. Ela conta que sua mãe adotiva, Analice, dizia que coisas ruins aconteceriam com Jacson caso ela contasse para alguém, o que fez com que ela tentasse apagar as memórias e evitar o assunto.

Carol, inclusive, já havia tentando suicídio. O pai biológico dela, Alessandro, conta que ficou assustado e perguntou várias vezes a filha o que a levara a tomar veneno, mas ela desconversava e dizia sentir ciúmes dele, por ter outro filho. “Me relacionei com minha mãe, minha irmã e com Jacson ao mesmo tempo. Todo mundo junto”, lembra ela.

Foi Carol, também, que engravidou do padrasto. “É estranho. Eu vinha enjoando, enjoando e minha mãe comprou um teste. Me levou para fazer um ultrassom e o bebê tinha dois meses. Ele comprou uma ‘garrafada’ e não resolveu. Depois de uma semana, ele comprou remédios para aborto. Colocou seis em mim. Depois, o feto desceu já grande”, contou.

* Carol e Amanda são nomes fictícios para não expor as vítimas;
* Todas as pessoas que aparecem na reportagem autorizaram a utilização de suas imagens; 

Leia a matéria original em AratuOn

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