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Entenda como cães estão ajudando pacientes com câncer em hospital de Salvador

Nos corredores por onde Angus caminha, a alegria toma conta. Vestindo um colete com um crachá de identificação abotoado, o integrante de quatro patas da equipe de intervenção assistida por animais, do Hospital da Bahia (HBA), em Salvador, segue ao lado da psicóloga Tatiane Seixas, em direção aos quartos dos pacientes que receberão uma dose da felicidade que apenas a visita dele é capaz de promover. 

Do lado de dentro da primeira porta, o aposentado Valter Carmo da Silva, 84 anos, já aguardava pelo cão. “E aí, garoto!”, foi dito com entusiasmo quando Angus finalmente entrou. Aquele foi o segundo encontro dos dois e a conversa rolou solta. Para descontrair ainda mais, Angus e a psicóloga especializada em intervenção assistida com animais, além de sua técnica, Tatiane, prepararam um jogo. O objetivo era fazer seu Valter recordar um momento bom da sua vida.

Com vários bilhetinhos nas mãos, a psicóloga pediu para que Angus escolhesse um. O papel selecionado dizia para o paciente relembrar um encontro com uma pessoa especial. Sua esposa, Maria Helena, 72 anos, que o acompanhava no quarto, foi posta em segundo lugar no ranking, porque o cão tomou a primeira posição. “Ele não quer se comprometer, viu Angus”, brincou Maria. 

Internado no HBA para tratar um câncer, seu Valter se despediu do visitante descrevendo aquela como uma visita renovadora. “Agora estou todo solto. Da primeira vez foi incrível recebê-lo, desta vez… Ave Maria! É ainda mais maravilhoso e renovador. Eu amo cachorros”, descreve o aposentado. 

Foto: Nara Gentil/ CORREIO

A terapia foi implementada pelo Hospital da Bahia há um mês e tem feito sucesso entre os pacientes. De acordo com a diretora de práticas assistenciais da unidade de saúde, Jaqueline Noronha, o cuidado foi adotado porque várias pesquisas demonstram que um  tratamento não precisa ser formado apenas por procedimentos médicos convencionais. 

“É um momento de promover um bem-estar e de surpreender eles e a família, porque a assistência não é formada só pelos cuidados [tradicionais], também é composta por emoção e pela relação com as pessoas. O paciente se sente muito acolhido e assistido quando recebe a visita do animal”, aponta a diretora.

Irresistíveis
A ‘visita de quatro patas’ não é aprovada apenas pela equipe médica, mas por todos os funcionários do Hospital, no entanto, como todo procedimento realizado em ambiente hospitalar, alguns cuidados de higienização precisam ser tomados antes que o animal entre em contato com o paciente. 

Para jogar com Valter, Angus chegou de banho tomado a menos de 24h, com dentes escovados diariamente, assim como o seu pêlo, e com uma roupa lavada especialmente para o momento da visita. Todos os materiais usados por ele e pela terapeuta facilitadora também estavam totalmente higienizados. 

Com o cão preparado, é hora de selecionar o paciente que receberá a visita. “As vezes, nem todos eles estão no momento de receber aquele amigo pet. Essa questão é sempre conversada antes, a gente procura saber se eles gostam do animal e se desejam a visita, praticamente 100% das respostas são positivas”, explica a diretora de práticas assistenciais do HBA.

Em seus anos de experiência como terapeuta, Tatiane destaca que mesmo os poucos pacientes que recusam, não resistem e voltam atrás. “Quando algum paciente não aceita e o cão chega no local, eles acabam pedindo para ver também, até mesmo os que têm medo voltam atrás e pedem para observar da porta, por causa da alegria que eles provocam em quem está no ambiente”, destaca Tatiane.

Por enquanto, as visitas no HBA estão sendo realizadas quinzenalmente e com pacientes em tratamento de câncer. O aposentado, Reginaldo Veloso Dantas, 75 anos, é um deles. Ele, que é apaixonado por cachorros, não conseguiu esconder a alegria de saber que o visitante completaria 9 anos nesta quarta-feira (24). Sua resposta para a pergunta do bilhete de Angus sobre uma data especial foi: “meus aniversários”. 

Sua atividade preferida é celebrar. “Vocês nem imaginam o quanto eu estou gostando dessa visita. Precisamos celebrar a vida e a presença de vocês aqui representa isso. Muito abrigado”, afirma ele. 

Amigo fiel
De acordo com Tatiane, a intervenção assistida pode ser realizada com qualquer animal, mas a representação de melhor amigo atribuída aos cachorros, faz deles os preferidos para a atividade. Para isso, os cães passam por um treinamento específico. 

“O cão é selecionado e avaliado para que a gente identifique que ele tem habilidades para essa função. As habilidades são no sentido de haver um interesse dele. O animal precisa estar feliz e ter satisfação nisso, porque seria injusto ser algo positivo apenas para o ser humano”, explica ela. 

O resultado da visita canina para os pacientes é a desconstrução do cenário de internamento, ampliação da comunicação, sensação de acolhimento, redução das queixas de dores e bem-estar. (Correio)

Foto: Nara Gentil/ CORREIO

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