Segundo maior produtor de cacau do País, a Bahia vive um momento favorável no setor com o aumento de preço que, pela primeira vez na história, chegou a US$ 10 mil por tonelada. Em Ilhéus, a arroba bateu, nesses dias, R$ 1.100 – antes da disparada da commodity, estava em R$ 200. Contribuíram para este cenário as fortes chuvas alternadas com tempo seco, as más condições das estradas e a doença da vagem preta nas plantações dos dois maiores produtores mundiais – Costa do Marfim e Gana –, responsáveis por cerca de 70% do cacau mundial. O mercado global deve gerar déficit de 374 mil toneladas, acumulados entre outubro de 2023 e setembro de 2024, segundo a Organização Internacional do Cacau.
No Sul da Bahia, são cerca de 69 mil estabelecimentos produtores de cacau, dos quais quase 74% são da agricultura familiar. A área plantada é de cerca de 439 mil hectares, sendo que 60% são cultivados através do Cabruca – sistema de plantio em meio às árvores da mata atlântica que contribui para a sustentabilidade. Os dados fornecidos pela Secretaria de Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura do Estado (Seagri) resumem o cenário positivo da cacauicultura que, em 2021, já tinha gerado cerca de R$ 1,8 bilhão, ou seja, 5% do Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) das lavouras do estado, ocupando a quinta posição entre todas as plantações em terras baianas.
O assessor técnico da Seagri, Thiago Guedes, destaca que o produtor de Ilhéus recebeu o prêmio de melhor cacau do mundo em Amsterdã pela excelente qualidade, fato já ocorrido em anos anteriores, como em 2021, quando as amêndoas receberam o prêmio de primeiro e segundo lugar no Concurso Internacional de Cacau – Cocoa Of Excellence (COEX 2021) e primeiro e segundo lugar no Concurso Nacional do Cacau.
O fruto do Sul baiano, completa Guedes, conta com o reconhecimento da Indicação Geográfica – IP Cacau Sul da Bahia, que abrange uma área de 61.460 km2, sete territórios (Litoral Sul, Baixo Sul, Extremo Sul, Vale do Jiquiriça, Costa do Descobrimento, Médio Rio de Contas e Médio Sudoeste da Bahia), contemplando 83 cidades.
“Dentre os avanços e as melhorias decorrentes da IP Cacau Sul da Bahia, temos a possibilidade da rastreabilidade, via QR Code, de todo o processo de produção de cacau, utilizando a tecnologia Blockchain. Outros avanços tecnológicos estão contribuindo para a qualidade das amêndoas, resultando na criação de um polo de chocolates finos no Sul da Bahia, que conquistam mercados no Brasil e no exterior”, pontua Guedes, destacando que em Ilhéus está o maior Parque de Moagem de Cacau do Brasil, que recebe cerca de 95% da produção do País e tem capacidade para 250 mil toneladas.
A cultura tradicional do cacau, com quase três séculos de implantação no Sul da Bahia, avança e supera desafios, além de gerar sustentabilidade. Entretanto, considera Guedes, é necessário realizar aprimoramentos para ampliar a produtividade. “Uma das melhores estratégias é a conservação produtiva e para isso é fundamental pensar no setor com três temas: crédito, assistência técnica e enfrentamento à monilíase”, pontua.
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