A tensão com o racha interno no Primeiro Comando da Capital (PCC) não ficou restrita aos presídios paulistanos. A ruptura na cúpula da maior organização criminosa do país, há pouco menos de um mês, já tem reflexos na Bahia. No Conjunto Penal de Feira de Santana, onde há 800 internos ligados à facção, por exemplo, a segurança foi reforçada. Já em Salvador, também na tentativa de evitar rebeliões, um detento considerado liderança da organização foi transferido às pressas para uma unidade federal de segurança máxima no dia 29 de fevereiro.
Ralfe dos Santos Almeida, o “Abençoado”, tido como o “sintonia”, ou seja, “braço direito” do PCC aqui na Bahia, estava no Conjunto Penal Masculino de Salvador quando foi enviado, sob sigilo, para a unidade federal. “Todo o sistema prisional (estadual e federal) do país está em alerta. A transferência foi uma forma de quebrar a cadeia de comando e evitar o pior”, declarou o vice-presidente da Federação Sindical Nacional dos Servidores Penitenciários e Policiais Penais (Fenaspen), Reivon Pimentel, que também é presidente do Sindicato dos Servidores da Polícia Penal do Estado da Bahia (Sinspeb).
O integrante do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo, promotor Lincoln Gakiya, disse que o racha já causou mortes. Segundo ele, a cisão aconteceu entre integrantes que compunham a ‘sintonia final’, portanto a cúpula, no caso Roberto Soriano, o Tiriça; o Abel Pacheco de Andrade, que é o Vida Loka; e o Vanderson do Nascimento, que vem a ser o Andinho. “Esses três se colocaram contra algumas atitudes do Marcola (Marco Willians Herbas Camacho, 56) e tiveram apoio de outros internos, que estão na penitenciária federal de Brasília. Do outro lado, o Marcola considerou traição, teria excluído e decretado (morte) desses membros. Esse ‘salve’ foi para as ruas, aqui em São Paulo. A princípio, a ordem de Marcola está valendo, já houve uma ou duas mortes na rua em decorrente disso”, conta.
Frame do trailer de PCC: O poder secreto Crédito: Divulgação / HBO
Em nota, a Secretaria de Administração Penitenciária da Bahia (Seap) informou que “o Serviço de Inteligência se mantém em vigilância, antes, durante e depois das transferências de relevância, para avaliar toda e qualquer consequência decorrente da decisão”.
“A Seap informa que trabalha de forma preventiva a todo tempo para evitar qualquer movimentação contrária à ordem nas Unidades Prisionais, estando preparada para intervir ostensivamente a qualquer sinal de insubordinação dos apenados, independentemente das organizações criminosas”, diz nota enviada ao CORREIO. Em relação à transferência de Ralfe, a Seap disse que “foi uma decisão referente à Segurança Pública do Estado”. A reportagem procurou a SSPBA, mas não obteve retorno.
Questionada sobre quantas transferências já foram realizadas e quantas ainda serão feitas, a Seap informou que “informações sobre operações de transferência são estratégicas e não podem ser detalhadas para a imprensa, por razões de segurança”.
Tendo em vista o cenário, o Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ/BA) disse que, “o Judiciário confia nas ações preventivas da Seap e que, caso provocado formalmente, em alguma necessidade, atuará na forma de legislação”.
O Ministério Público do Estado (MP/BA) informou que monitora a situação em torno do PCC, mas pondera. “O movimento de inquietação aqui na Bahia se deve ao processo de fiscalização dos procedimentos nas unidades prisionais, que gera insatisfação por parte dos presos, com suspensão de visitas, não uma coisa orquestrada. O PCC não tinha muito interesse na Bahia, desde que fosse o único atacadista. Mas em 2016, o PCC e o Comando Vermelho romperam um acordo e a o Brasil passou a ter as dois atacadistas, que disputam o território nacional e internacional de drogas”, declarou o promotor Edmundo Reis, da Vara de Execuções Penais.
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