Com R$ 50 você pode comprar uns quatro quilos de peito de frango, cinco placas de ovo, três quilos de corvina ou um quilo de carne de primeira. Sim, a carne vermelha virou artigo de luxo. Cortes como alcatra, contrafilé e patinho, que no ano passado costumava ser vendido por R$ 24, agora chega a custar, em média, R$ 33. Mas em alguns mercados de Salvador, um quilo desse alimento pode sair por até R$ 50, como indicado no aplicativo Preço da Hora Bahia, do Governo do Estado.
“Esse valor médio de R$ 33 é relativo ao mês de setembro de 2020. Ainda não temos os dados de outubro e pode ser sim que tenha ocorrido um aumento”, explicou Nadia Souza, economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Essa instituição pesquisa o preço dos alimentos que compõem a cesta básica em algumas capitais brasileiras e constatou que, em Salvador, do início de 2020 até setembro, o preço da carne vernelha teve um aumento de 26,5%.
Na manhã dessa terça-feira (6), o Correio esteve em alguns frigoríficos de Salvador e constatou, com os consumidores, o preço alto. Na Boca do Rio, o quilo da carne de primeira estava R$ 40. No bairro vizinho, o Imbuí, o preço era R$ 42. “Eu costumava comprar carne de primeira, mais aumentou muito. Até a carne de segunda aumentou! Por isso, tô preferindo o peixe, soja, frango… o problema é que o frango enjoa, mas temos que aguentar, pois é mais barato”, disse a dona de casa Zenilde Abreu Brito, 60 anos.
Ela conversou com o Correio após comprar fígado, uma carne de segunda, a qual ela teve que dar mais preferência. “Antes o quilo do fígado era R$ 10 e agora saiu por R$ 19,99. Até para fazer uma feijoada está difícil. Eu coloco apenas uma calabresa no feijão e pronto”, disse.
Na frente desse frigorífico, dois ambulantes vendiam pescados. “Nosso faturamento aumentou, pois muita gente percebe o preço alto da carne vermelha e dá preferência para o peixe. Aqui a guaricema está R$ 10, a corvina R$ 15 e o camarão R$ 25”, disse um dos vendedores, que não quis se identificar. O idoso Antonio Carlos, 64 anos, foi um dos clientes conquistados pela dupla. Ele levou meio quilo de camarão e ainda foi comprar um quilo de frango no supermercado, para completar.
“Eu sou fã de carne vermelha, mas sei que hoje temos que comprar outros alimentos. Na situação que estamos atravessando, está muito difícil comprar carne. Todos os cortes aumentaram e não tem como o trabalhador sobreviver só de carne de boi”, reclamou.
Óleo
Além da carne vermelha, a aposentada Zuleica Leite, 70 anos, destacou o aumento no preço de outros produtos. “Tá um absurdo! O óleo mesmo está muito caro. Eu fui um dia desses no mercado e comprei um litro por mais de R$ 7. Normalmente era R$ 4. Aumentaram todas as carnes de segundas, o arroz, o leite”, disse.
Já a consumidora Ana Cleide, 25 anos, até pensou em levar o óleo, mas desistiu quando viu o preço. “Eu costumo levar o de soja, mas com esse preço não dá. Para substituir, vou usar o azeite de oliva. É estranho, pois era um produto menos usado antes, mas a gente precisa de algum óleo para fazer as comidas, não tem jeito”, disse.
Ana conversou com o Correio no Atakarejo da Boca do Rio. Lá, uma garrafa de 500mL de óleo de soja custava R$ 5,15. Os outros tipos de óleo (milho e girassol), chegava a atingir R$ 10. No Extra da Avenida Paralela, cada cliente só poderia levar cinco unidades de óleo de soja, cuja garrafa de 900mL custava R$ 7,19. A mesma limitação ocorria no Bompreço e na RedeMix, ambos do Imbuí, onde a garrafa de óleo de soja saía por R$ 6,59 e R$ 6,98, respectivamente.
Segundo a economista do Dieese, de agosto para setembro, o aumento no preço do óleo de soja foi de 30,11%. Se comparado a janeiro de 2020, esse salto é de 60,5%. No Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto, o óleo de soja foi o produto que mais aumentou de preço, com alta de 8,32% em agosto, e 20,8% de variação acumulada do ano.
Motivo
O que explica esses números, tanto para o óleo como para a carne vermelha, são fatores externos.
“O dólar está muito caro, o que significa que nossa moeda está desvalorizada e, assim, nosso produto fica mais barato lá fora. Atualmente, temos exportado muito, pois o mercado internacional está reaquecendo. A demanda por exportação está alta, pois é barato comprar do Brasil. Por isso, os produtores preferem vender para o exterior do que no mercado interno”, disse a economista do Dieese.
Nadia Souza também explicou que o fim dos estoques públicos de alimento no país foi um fator que contribuiu para que o preço não ficasse regulado. “Antes, o Governo Federal, por meio do Ministério da Agricultura, mantinha um estoque de produtos para regular o preço. Quando estava muito caro, colocava mais produto no mercado e o preço caía. Como não há mais essa política, fica realmente o livre mercado. E se tem pouco produto aqui dentro, o preço sobe”, disse.
Para comprar barato, uma dica é pesquisar bem os preços. “Essa é uma boa dica, mas ela também depende da quantidade de produto que você consume. Se para pesquisar você precisa fazer um deslocamento que gaste transporte, talvez não compense”, disse Nádia. No final do texto, confira dois aplicativos gratuitos que te ajudam a comparar preços sem sair de casa. “Às vezes tem aquele dia da semana que os mercados fazem promoções. É bom dar preferência a esses dias”, concluiu.
No total, a cesta básica do soteropolitano teve um aumento de 27,4%, se comparado o mês de setembro com o de janeiro de 2020. Além do óleo de soja e da carne bovina, o tomate foi o grande responsável por esse preço. “É uma fruta perecível, um produto de durabilidade baixa. Então, seu preço flutua muito e é dependente da safra”, explicou Nadia.
Confira a variação anual dos 12 principais produtos da cesta básica em Salvador:
Tomate – 85,3%
Óleo de soja – 60,5%
Arroz – 42,1%
Banana – 30,9%
Carne bovina – 26,5%
Leite líquido – 21,2%
Feijão – 17%
Açúcar – 15,6%
Pão – 14,6%
Farinha de mandioca – 5,3%
Manteiga – 0,61%
Café – Redução de 3,7%
Total: aumento de 27,4% na cesta básica do soteropolitano.
(Correio)